domingo, 24 de maio de 2009

Algumas considerações sobre os prejuízos da Tríplice Aliança na I Guerra...!!!

Bom pessoal, foi perguntado sobre o fim da guerra e os impactos da derrota sobre a Tríplice Aliança. Vamos agora responder a esta questão, utilizando o seguinte resumo retirado de dois livros de história bastante respeitados...

1918 – Vitória final do Aliados

O inicio de 1918 foi inaugurado pela enorme ofensiva das Potências Centrais contra a Entente, visando a impor condições a esta, antes que as tropas norte-americanas chegassem totalmente à Europa. Nesse ano, foram utilizadas todas as inovações bélicas (tanques, aviões, gases venenosos etc.), recomeçando a “guerra de movimento”. Entretanto, a ofensiva alemã foi paralisada pela segunda batalha do Marne. A balança de forçasse inclinou definitivamente para a Entente, que iniciou uma contra-ofensiva de grandes proporções, levando os alemães ao recuo.

Na Europa Oriental, a Bulgária capitulou, o mesmo ocorrendo com a Turquia que, ameaçada delas vitórias inglesas na Síria e no Iraque, decidiu depor as armas. A Hungria foi ameaçada e os italianos em Vittorio Veneto iniciaram grande ofensiva. O Império Austro-Húngaro se decompôs, pois cada nação proclamou sua independência. Só a Alemanha prosseguiu a guerra, mas a partir de novembro estouraram rebeliões da esquerda e, a 9 de novembro, a República foi proclamada.

A 11 de novembro, os representantes do Governo Provisório alemão assinaram em Rethondes o armistício que punha fim à guerra.

Problemas causados pela Guerra

Esta foi a primeira guerra da qual participaram todas as principais potências do mundo, embora de certa maneira não tivesse deixado de ser, no fundo, uma “guerra civil européia”. As guerras anteriores, contudo, se restringiram à Europa e eram travadas entre Estados de economia agrícola. Em 1914 foi diferente: as principais potências envolvidas eram industriais, foram utilizados todos os novos experimentos técnicos e a população civil sentiu na carne a guerra.

Economia de Guerra!


A Primeira Grande Guerra, pela sua duração e, amplidão, levou à necessidade de mudança de atitude do Estado em relação à economia nacional. Cada Estado passou a controlam ou a submeter à sua autoridade a direção da economia, tomando medidas que revolucionaram os hábitos tradicionais, colocando em xeque as concepções doutrinárias tradicionais, uma vez que os diversos Estados:
1) recrutaram obrigatoriamente os civis, já que, em pouco, as “reservas de homens” se tinham esgotada;
2) modernizaram e intensificaram a produção de material bélico; dispuseram da mão-de-obra e regulamentaram seu emprego.
A economia de guerra, que suprimiu a liberdade econômica, incluiu a fixação dos preços de venda das mercadorias e o racionamento mediante o estabelecimento de cotas de consumo à população civil. Proibia-se ou se liberava a importação de produtos de primeira necessidade e se controlavam os transportes, inclusive com o congelamento dos fretes. As fábricas deveriam produzir apenas artigos de guerra, os salários ficavam congelados e proibidas as greves.
O financiamento da guerra ultrapassou as expectativas, tendo os Estados recorrido aos empréstimos externos e internos, destacando-se também o problema dos abastecimentos: pela primeira vez na História adotou-se o racionamento, iniciado na Alemanha e estendido a todos os países, em maior ou menor grau. A vida tornou-se muito difícil para a população civil, que teve seu poder aquisitivo diminuído com a alta desenfreada dos preços e o congelamento salarial em um momento em que a greve era proibida por ser considerada atividade “antipatriótica”...


Problemas Políticos e Sociais

As liberdades políticas foram suspensas e os Parlamentos deixaram de ter voz ativa, uma vez que a urgência das medidas a serem adotadas levou à iniciativa constante do Executivo. “A disciplina imposta pela guerra incrementou a autoridade dos ‘notáveis’ a quem os progressos da Democracia obrigavam, antes, a recuar lentamente: não só a autoridade dos chefes militares, ciosos de suas prerrogativas e cujas altercações com os governos civis nem sempre terminavam com a vitória destes últimos, mas também a da burguesia que fornece a quase totalidade dos quadros do exército (...) A luta contra as opiniões prejudiciais à Defesa Nacional, contra o derrotismo, estende-se não apenas a toda critica dos atos do comando ou do governo, mas a toda opinião que ponha em perigo a União Sagrada discutindo a estrutura social, o exercício da autoridade patronal ou os problemas religiosos.” ( CROUZET, M, op. cit., pág. 31.)

Toda essa situação foi-se tornando insustentável durante o desenrolar do conflito.
Começaram a se desenvolver, com diferentes gradações, opiniões pacifistas nos próprios governos e a oposição socialista continental aumentou. Em 1915 socialistas russos exilados, suíços, italianos, alemães e franceses realizaram em Zimmerwald, na Suíça, um congresso negando a União Sagrada e exigindo “uma paz, sem anexação e sem indenização”

Tudo isso estimulou motins, deserções e rebeliões da própria população civil. As greves, mesmo proibidas, aumentaram, e na Rússia o Czarismo foi derrubado com participação da própria burguesia, ao mesmo tempo que se desenvolvia a Revolução Socialista (1917).

Repercussões da Guerra

Do ponto de vista econômico, a guerra produziu crescente desequilíbrio entre a produção e o consumo, manifestando-se uma crise econômica que teve na inflação seu aspecto mais importante. Essa precária situação econômica, que marcou o declínio relativo da Europa, ocasionou. grande desequilríbrio social, destacando-se a pauperização da classe média e o aumento da pressão operária através dos sindicatos controlados pelos partidos socialistas, que se dividiram.

“Até aqui, era um fato elementar (...) que a Europa dominava o mundo com toda a superioridade de sua grande e antiga civilização. Sua influência e seu prestígio irradiavam, desde séculos, até as extremidades da Terra (...)

Quando se pensa nas conseqüências da Grande Guerra, que agora finda, pode-se perguntar se a estrela da Europa não perdeu seu brilho, e se o conflito do qual ela tanto padeceu não iniciou para ela uma crise vital que anuncia a decadência (...)”

( DEMANGEON, A., Le Déclin de L’Europe, Payot, págs. 13 e 14.)

A ameaça de revolução pairava sobre a Europa, especialmente nos países derrotados. Tal situação levou a concessões por parte dos setores dominantes, ocorrendo, em contrapartida, o fortalecimento crescente das classes trabalhadoras através da ampliação da legislação social.

O elemento feminino, sobre o qual recaíra durante a guerra grande parte das responsabilidades da retaguarda, aumentou sua projeção social e política.

Politicamente, a guerra, em um primeiro momento, assinalou a vitória dos princípios liberais e democráticos, com o desaparecimento dos Impérios Alemão, Áustro-Húngaro, Russo e Turco, e a adoção do regime republicano em quase todos os países, tendência muito breve, uma vez, que a crise que se seguiu à guerra, provocando a intranqüilidade e a instabilidade sociais, levou ao estabelecimento de ditaduras: aprofundava-se a crise do Estado Liberal.


“Tratados” de Paz; a Conferência de Paris

Em janeiro de 1919 reuniu-se em Paris uma conferência de paz, na qual eram representados 32 países - Aliados ou neutros. Os países vencidos e a Rússia não participaram. Tal situação inicial já mostrava o objetivo de impor uma “paz cartaginesa” (severa) aos derrotados.
Desde janeiro de 1918 que, em uma mensagem ao Congresso, o Presidente norte-americano Wilson tinha estabelecido os Quatorze Pontos que deveriam, segundo ele servir de base aos futuros tratados regulamentadores da paz. Podemos destacar os seguintes Pontos:

1) abolição da diplomacia secreta;

2) livre navegação nos mares;

3) supressão das barreiras econômicas;

4) redução ao mínimo dos armamentos nacionais aos limites compatíveis com a segu rança interna do país;

5) restauração da independência da Bélgica;

6) restituição da Alsácia e da Lorena à França;

7) autonomia para as nacionalidades do Império Austro-Húngaro;

8) regulamentação amigável das questões balcânicas;

9) reconstituição de um Estado polonês, com livre acesso ao mar;

10) instituição de uma Sociedade das Nações destinada a garantir a independência e a integridade territorial de todos os Estados.

As figuras principais da Conferência foram os representantes da França (Clejnenceau), Inglaterra (Lloyd George) e Estados Unidos ( Wilson) que concordaram em fundar a Sociedade das Nações.

Além da divisão entre os vencedores, dificultando a paz, os países vencidos se recusavam a assinar os injustos tratados impostos, procurando a Alemanha, por todos os meios, ludibriar as determinações neles contidas. A Áustria e a Hungria não se conformaram com os tratados, que reduziram a primeira a um “anão disforme”. A Bulgária não aceitou a perda de portos do Egeu e, na Turquia, o governo dos Jovens Turcos, chefiado por Mustafá Kemal, que havia deposto o Sultão, recusou-se a aceitar a “humilhação do Tratado de Sèvres”.

Mas todos os vencidos tiveram que aceitar os tratados.

O “Tratado” de Versalhes

Regulava a paz core a Alemanha, sendo composto de 440 artigos; ratificado pela Alemanha em 28 de junho de 1919, na Galeria dos Espelhos. Seus artigos dividiam-se em cinco capítulos:

1) o Pacto da Sociedade das Nações;

2) Cláusulas de segurança;

3) Cláusulas territoriais;

4) Cláusulas financeiras e econômicas;

5) Cláusulas diversas. Eis as principais estipulações:



1) Cláusulas de segurança (exigidas pela França, que temia a desforra dos alemães: proibição de fortificar ou alojar tropas na margem esquerda do Reno, totalmente desmilitarizada; fiscalização do seu desarmamento por uma comissão interaliada; em caso de agressão alemã à França, esta receberia auxílio anglo-norte-americano; redução dos efetivos militares; supressão do serviço militar obrigatório, sendo o recrutamento feito pelo sistema do voluntariado; supressão da marinha de guerra e proibição de possuir submarinos, aviação de guerra e naval, e artilharia pesada;


2) Clausulas territoriais: devolução da Alsácia e da Lorena à França, de Eupen e Malmédy à Bélgica, do Slesvig à Dinamarca; entrega de parte da Alta Silésia à Checoslováquia; cessão da Pomerânia e dá Posnânia à Polônia, garantindo-lhe uma saída para o mar, mas partindo em dois o território alemão pelo corredor polonês; renúncia a todas as colônias que foram atribuídas principalmente à França e à Inglaterra; entrega de Dantzig, importante porto do Báltico, à Liga das Nações, que confiou sua administração à Polônia;



3) Cláusulas econômico-financeiras: a título de reparação, deveria entregar locomotivas, parte da marinha mercante, cabeças de gado, produtos químicos; entrega à França da região do Sane, com o direito de explorar as jazidas carboníferas aí existentes, durante 15 anos; durante dez anos, fornecimento de determinada tonelagem de carvão à França, Bélgica e Itália; como “culpada pela guerra”, pagaria, no prazo de 30 anos, os danos materiais sofridos pelos Aliados, cujo montante seria calculado por uma Comissão de Reparações (em 1921, foi fixado em 400 bilhões de marcos); concessão do privilégio alfandegário de “nação mais favorecida” aos Aliados;



4) Cláusulas diversas: reconhecimento da independência da Polônia e da Tchecoslováquiá; proibição de se unir à Áustria (“Anschluss”); responsabilidade pela violação das leis e usos da guerra: utilização de gases venenosos e atrocidades diversas; reconhecimento dos demais tratados assinados.

Outros “Tratados” de Paz

No mesmo ano, foram assinados tratados de paz em separado com os demais vencidos consagrando modificações de fato já ocorridas, com o desmembramento do Império Austro-Húngaro - devido a revoltas nacionais- e as anexações feitas pela Sérvia, Romênia e Grécia às custas da Turquia, Hungria e Bulgária. A questão das províncias asiáticas da Turquia ficou para ser discutida mais tarde. Foram assinados três tratados: o de Saint-Germain, com a Áustria; o de Trianon, com a Hungria; e o de Neuilly, com a Bulgária. O último a ser assinado (em 1923) foi o de Lausanne, com a Turquia, por causa da reação turca às imposições do Tratado de Sèvres.

Os tratados de paz refletiram o caráter imperialista da guerra. Embora a tendência na década de 1920 fosse a de se estabelecer um “esfriamento” nas relações internacionais, a paz rigorosa imposta aos vencidos, sobretudo à Alemanha, aumentou os antagonismos.

Fora da Europa, os principais beneficiários da guerra foram o Japão, que manteve a ocupação de colônias da Alemanha no Pacífico e se apossou das concessões alemãs na China, e a Inglaterra e a França, que receberam da Liga das Nações antigas colônias alemãs na África sob a forma de mandatos.

A União Soviética, ignorada pelas potências ocidentais na convocação para a Conferência de Paris, teve seus territórios invadidos_ pelos antigos aliados; o fracasso da intervenção militar resultou em uma política de isolamento ao primeiro Estado socialista domundo: a Política do Cordão Sanitário.

Por outro lado, do conflito participaram pela primeira vez tropas coloniais que, ao retornar aos seus países de origem, iniciaram os movimentos nacionais de libertação, em nome da própria ideologia liberal européia: começava a Descolonização da Ásia e da África.

A guerra também abalou o Liberalismo Político e Econômico e a Revolução Russa comprovou na prática a aplicação das teorias socialistas do século XIS. A guerra não pusera fim às rivalidades. Tudo recomeçaria, pois em Versalhes foram lançadas as sementes da Segunda Guerra Mundial ...

História Geral - Aquino, Denize e Oscar - Ed. Ao Livro Técnico
Toda a História - José Jobson Arruda - Ed. Ática
História - Luiz Koshiba - Ed. Atual


Prof. Assis Leão

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